terça-feira, 19 de agosto de 2008

A viagem


O cometa olhava à frente, para não cometer o erro do caroneiro.
O biólogo mirava o passado. Sentia saudades de semelhantes episódios, misturado com receio de perseguição.
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Não era receio; Era
vero.
Um esquadrão de
borbos lhe ameaçava com vinganças.
As coloridas desejavam salpicá-lo de perfumes.
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O cometa descortinava o espaço sideral. Nada sentia.
O carona nada usufruia, só temia.

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Na viagem interestelar o cometa percebeu o peso na cauda.
Foi ver, tinha vida! Pronto. Agora era um cometa com alma.
Um astro vibrante, único.


Mas era só mais um desalmado.
Muito amado, na caça cósmica empenhara tudo que tinha.
Desprovido, agora era apenas componente de um rabo-de-foguete.
Ainda que fosse cola, não podia chegar a leme.
Não era responsável pelo rumo,
pela nova trajetória que ambos mergulhavam. Nem o cometa.


Quinhentas horas de diabruras haveria de findar.

Eram outros, os quinhentos.
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Às 19hrs, 12min e 17seg do paralelo
Greenwich,
exatamente onde aguardava o ponto G, tudo se desfez.
A gravidade os engolfou.
Pluft, o fantasminha, sorriu outra vez.
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Amor cruel: a vontade é infinita, mas depende da execução.


Cometas anunciam prenúncios.
No raiar da Primavera, numa praia deserta,
o biólogo se fez poeta.

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