segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O biólogo e o cometa

O biólogo conhecia tudo que era vida; menos a dela. Ela conhecia inúmeras vidas; menos a dele. No entanto, se amavam!

O CLARÃO DO SIAMÊS punha o Sol a correr, envergonhado. Cabelos esvoaçantes, negros como as asas da graúna (essa é velha). Numa palavra, então, estonteantes. Coração de ouro, gigante; passo compassado, voz de veludo. Os CDs quebram a barreira do som. Até disco-voador quer gravar. No disco, ao tempo, à novo sentido, ímpar. Líder nata; pop.
Era ela; não havia dúvidas. Pérola no mar, tempestade no deserto. Completa. Inesquecível. Meiga, carinhosa, esperta. Escorpiã do mais doce-veneno. Inteligente, perspicaz, solidária. Às vezes desconfiada. Certo: não se entra em canoa furada; tampouco em nave arrasada. Rápida como cometa, não permite que alguém cometa o menor dos desatinos. Tomada como lesma? Nunca foi. É a mesma a cuidar do destino, fiel a um passado que insiste em acompanhá-la, tal corrimão de escada-rolante. Não se espante: nela o esforço é menor. Nada de pior, mas como condenar?


Ele já apresentava profundos sulcos, visíveis pelo Endeavour. Se até a inanimada Lua é riscada, como pretender que se passe pela vida sem risco? Muito arriscara. A cada revés, um risco tornado real. Estômago embrulhado por tantas travessuras. Sua cabeça era um planeta a girar ao redor de um sol errante. Perdido na noite, iludido no dia. Enxergava as estrelas, mas não por onde voava. Como o amor que é cego, nunca acertara um alvo. Pela cegueira, não percebem as tolices que cometem.
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Bio
vagava ao léo, à cata de novas borbos. Em 11 de setembro vislumbrou as gêmeas. Resplandeciam os verdes-azulados, azuis-esverdeados.
Cometa à proa! Terra fora da vista! Splash! E lá se foi o tonto, na cauda do deslumbrante luminoso.
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Amanhã: A viagem.

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