terça-feira, 18 de maio de 2010

Confissão


Hoje venho, respeitosamente,
à sua presença, para desabafar.
Ouça bem atentamente,
depois diga a me salvar.

Seguido recebia visitas.
Não convidava - elas vinham chegando.
Alimentavam-se, e saiam bonitas
em fila indiana aumentando.


Isso não é de boa-alma
comer e sair por janelas.

Levado sei-lá por qual carma,
em tempo acabei com elas.

Sim, mas quantas foram liquidadas?
Nenhuma era querida?

Desconhecidas, prostitutas, ou amigas?
E ainda queres palavra dada!!

Nenhuma teve enterro decente.
Corpo estendido no chão,
pior do que indigente.
Mas não é o que pensas, não.

Não posso pensar estarrecido.
Tanta frieza... Não tens coração?
Mas nem animal vestido!
Vai parar na elétrica, patrão!

Disse que não era assim.
Afinal, nenhuma sentiu tanto.
Só porque elas não mais vêm mais a mim,
é que agora resta meu pranto.

Mas... e as famílias, seu homicida!?
E sua consciência... ainda mais trágica?
Cicatrizar tal ferida
apenas num passe de mágica?

Disse para ir bem com calma.
Elas nem tinham família.
Afirmo-lhe que sou boa-alma;
então, por favor, não me humilha.

De que modo me manter sereno
ouvindo tão grande mal?
Não sou dado à veneno.
Quem são elas, afinal?

De nenhuma sei o nome.
Elas não me falaram nada.
Mas, CALMA!!! Não sou lobisomem.
Não me apraz sangrar uma amada.

Eram apenas formiguinhas, coitadinhas.
Ora restam somente as galinhas.

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