terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Chororô
Quando lhe falta o amigo,
em que pese a boa relação,
onde encontrar um abrigo,
a diminuir aflição?
.
.
E se faltar o amor,
esta melhor relação?
Onde obter um favor,
uma calma ao coração?
E quando se vai o parente?
Feliz por ter menos um?
Não resta lugar algum,
algum conforto pra gente.
E o que dizer do parceiro,
cansado de curtos negócios,
se manda a curtir o ócio,
importante é ser ele primeiro?
E quando chega o forasteiro,
eivado de desconfiança?
Pobre do aventureiro:
não arruma nem à pança.
E quando a nova empresa
nega acesso ao pretendente,
o que ele verá na mesa,
além de caído um dente?
E quando o governo malvado,
vingativo tudo bloqueia,
o que restará ao coitado,
se não se enredar na teia?
E quando descobre o funesto,
os anos perdidos na escola,
não servem nem para esmola,
nem a pão-velho, ou a um resto?
E quando percebe o infeliz,
despido das parcas vestes,
e dizem: "assim você quis"?
E quando então não lhe resta mais nada,
nem gente, nem coisas, ou motivo,
exceto uma fome danada.
Qual razão assiste estar vivo?
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