Pé-quente

-
Largue a China. Tem recado do Brasil.
O que dirão que já não sei?
Sugerem comportamento.
Mas até aqui a polícia me acha?
Nada. É apenas um gancho, usado por quem te quer bem. Vai ver fizestes algo de bom, apesar de seres tão ruim.
Ela que sossegue.
O espetáculo recém vai começar.
-
E qual será o primeiro número?
O 1. Não ensinam mais?
Costumam dar nomes, em vez de números,
ainda mais se tratando de gente, não de coisa.
Então pergunte certo.
Estás de conversa mole. No mínimo cansado.
Em parte. Mas nada que me tire o prazer.
Então, de que modo começará o espetáculo?
Não sei. Vou procurá-lo.
Mas então, como ousas dizer que vai começar
algo que nem sabes o que é?
Para onde virar nosso corpo, nossa mente, o frontal
do coração, aparece o espetáculo que se quiser.
Então, para que procurar?
A peça será vibrante, surpreendente.
Mas gostaria de apreciá-la num cenário compatível.
Ué, não será o ator? E porque sair do oceano?
Gosto dele pela paz. Mas posso levá-la.
Aliás, nem penso em abandonar as ondas.
É uma delícia ser conduzido pelas energias.
Eita conversa mole.
Eu estava quieto, preparando meu mapa de navegação.
Diante do recado, interrompi. Volto para a cartografia.
Que plano delineia? Qual rumo?
Sul. Sinto que estou de pé-quente, e com sono.
À Patagônia?
Não. Aqui mesmo - à minha cama.
Arrivederci, bambino.