domingo, 18 de outubro de 2009

Em vão


A ninguém deveria ser dado apontar defeitos em quem quer que seja. Eles per se são evidentes; e por isso, naturalmente prejudiciais. Não há quem não tente ultrapassá-los, superá-los. Não existe prazer no fulcro de personalidade, ou de caráter. Justamente por ser prerrogativa pessoal, subjetiva, a tentativa de reparo por algum agente é sempre inóqua, na melhor das hipóteses. Na pior, por reação, recrudesce o que tenciona evitar. Ainda que o conselheiro haja por compadecimento, ou até obrigação, o máximo que ele pode apontar são eventuais ou eminentes consequências, mas nunca remediar a postura, porque fruto da racionalidade de cada um, por mais irracional que pareça. Ainda se pode tentar redesenhar o caminho tomado, para tornar flagrante o desvio, mas a cambagem é inerente ao ator, que por certo melhor sabe sua extensão, e mais ainda, o dano que padece. Por maior compreensão que se tenha, na verdade está-se emitindo um julgamento, ou pior, um prejulgamento sobre aquela atuação, cuja sentença será tão ou mais defeituosa que o defeito tentado apontar: se já não é fácil para o "defeituoso" estabelecer a quantidade de vetores que contribuem para seu infausto, ao acusador, ou mesmo ao julgador é completamente impossível coletar tantos dados, para emitir a clara e exata noção que exige qualquer interferência sobre o comportamento alheio.
Dir-se-á: existem ações tão gerais, maléficas e evidentes, que nem necessitam assim de exames tão detalhados. Concordo. E por serem deste modo salientes, prescidem de quem as aponte.

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