terça-feira, 1 de setembro de 2009

Partida


Nos domingos Dedé tinha o sagrado programa, a viagem mais longa que fazia o sempre brilhante Vanguard. Por volta das dez, lá vinha a boaterna senhora:
- Vamos ao parque?
Naquele estádio morava uma criatura que eu nunca vi, de nome Salvaterra. Para ela era muito importante cumprir o ritual, oferecer atenção àquele ente escondido. Para mim, um prêmio ao bom comportamento da semana. Embarcar naquele carro cheiroso, rumo ao destino do Sol, se não era emocionante, era por demais gratificante. Até a chegada, a bondosa dama dividia seu tempo entre olhar a avenida, e o meu Universo. Gostava de ir devagar, percebendo os detalhes e as mudanças do caminho no qual me dirigia o carinho.
No reduto havia fabuloso estacionamento, sempre vazio, de modo que o cascudo podia parar em frente ao magestoso pórtico. Ela levava umas flores, para adornar ainda mais o pacífico recanto. Nem precisava. As alamedas eram repletas de árvores, e no platô cruzava uma brisa sempre primaveril.
Hoje, neste instante, Dedé resolveu se mudar definitivamente para lá.

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