
Onde vais tão solitário?
Que de mais resta ao felizardo sobrevivente, quiçá desiludido ausente, posto todos se terem ido à eternidade?
Como assim?
Não vejo mais ninguém; portanto, ninguém mais pode me falar.
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Eu e a voz de um moribundo, que sai por meio das minhas cordas vocais. Eis o que restou. Eis o que posso ouvir. Com ela, voz amada, última lembrança do que era a humanidade, último sopro que anuncia a eternidade. Graças a ela posso dar um troco à minha absoluta solidão, assim penetrando nos recônditos labirintos das mentiras das multidões. E assim ainda percebo o amor, posto meu coração rejeitar a possibilidade de vê-lo morto. Assim, por não suportar esta mais solitária de todas as solidões, me resta a falar de frente á parede para no eco supor que a vida exista.
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Como podes sobreviver desse modo?
O que me consola é que por último não sou o primeiro peregrino, e que outros aventureiros solitários vagaram por este oceano de deserto, esta sêca totalmente molhada, o sertão que virou mar, para todos afogar, exceto eu, e meu próprio sonido.
Agora, com licença, você é apenas ilusão. Na falta das ondas que necessito, valho-me do pulsar de meu sonoro coração.
* * *
Ouço-te, ainda, minha voz? Cochichas praguejando?
E por qual maldição? E, contudo, tens ouvidos, sim, minha voz, minha amada! Só quando morreres serei o último dos humanos.
Por enquanto, apenas dos homens.
Um comentário:
Belo conto.
Vim agradecer seu comentário feito no meu blog.
Desejo sucesso,
Abraço.
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