Ora, inveja

Tenho inveja de você,
Corre 40 sem parar?
Como posso conceber
alguém melhor que eu no andar?

Ora, caro ex pectador.
Desça de sua cadeira.
Pratique com todo ardor,
nunca andará na estribeira.

Mas tenho outra inveja de você.
Lê um livro num dia?
Não tenho esse tempo a perder,
Sempre me toca a porfia.

Ora senhor dorminhoco,
Abra os olhos um momento.
Já não serás nenhum louco,
nem fantoche, nem sonolento.

Mas tenho mais inveja de você.
És rico, nada te falta.
Eu tenho que pagar para ver,
Senão ela me mata.

Ora seu grande pagão,
Não precisa de tanto credo.
Basta não ser gastão,
nem trouxa, cruz-credo!

Tenho mais inveja de você.
Bebe, come, e não engorda.
Comida nem posso ver,
Se não já não passo na porta.

Ora seu grande glutão!
Olho maior que a barriga!
Bem melhor é rapariga,
e faz bem ao coração!