quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Hardway

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Sobrou-me alguma coisa?
Palavras. Recomendaram-te jejum.
Sarcásticos. Cruéis. Desumanos. Podres. Cínicos.
E agora?
Os gestos não me deixaram escolha.
Dependo de mágica.

E você acredita nisso?
Quando criança.
Então, o que podes esperar?
Dizem que a sorte pode vir até para quem nela não acredita.
Treze pontos são raros.
Já me passaram treze contos. É só alterar a inicial.
Para passar um conto, bastam um vigarista e outro de boa-fé. Para os treze pontos, existem centenas de vigarista, e milhões de boa-fé.
Números não fazem parte de meu Universo.
Sei. Mas no que se constitui, afinal, tua expectativa?
Nas forças da natureza, que não são conversíveis em números.
Ora, contamos dias, anos, tempo de vida. Isso são números, e são da natureza.
Apenas demarcações, para navegantes que se julgam previdentes.
Como passar pela vida sem nada aferir? A própria razão, por exemplo, provém de rateio, ou seja de cálculo. Todos calculam. Quem não contabiliza, não dá valor.
A águia não come? Ela tem algum altímetro?
Não tens tamanha liberdade. Se faltar mantimento, morres ao relento.
Fosse por isso dono de supermercado seria eterno.
Todos preservam a vida. Insistes que não vale a pena?
Isso é o que os queridinhos que me despojaram estão torcendo. Vou surpreendê-los.
A esperança deles é calcada em fatos. A tua, em suposições.
Fatos dependem de interpretações, e sempre preconceituosas.
E qual a vantagem de se agarrar em apenas suposições,
ainda mais lastreadas num completo aleatório?
Não tenho escolha. Você não me trouxe as palavras? Se nada sobrou do que é meu, o quê irei contar, além dos dedos, que já sei, são dez?

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