Brilhante

Desistiu de enriquecer?
Sou rico.
Nada vejo. Onde guarda o tesouro?
Não sou pirata. Minha vela é branca total.
Rico sem riqueza? Leão careca?
Riqueza e pobreza são medidas;
e, como tais, relativas.

Não me venha dizer que tua riqueza consiste na tua vida,
no teu conhecimento, ou nas tuas amizades.
Por isso já não podes me considerar pobre; mas como isso todo mundo tem, nem é por tanto que estou no rol melhor.
Teu rol é o da enrolação!
Disse que sou rico, provo com a maior simplicidade.
E afirmo que quase todo mundo é pobre,
por isso andam por aí, se batendo e se debatendo entre si.
Tenho um vizinho que comprou uma Mercedes importada.
Sei quem é. É pobre; por isso quer aparentar riqueza.
Como ousa tamanha ilação?
Ele queria uma Ferrari. Como não tem renda suficiente,
adquiriu um mais barato, nem por isso menos lustroso,
mas ele não está satisfeito. Acha-se pobre. De fato é.
Mas é um patrimônio respeitável!
Aos olhos dos outros, sim. Aos próprios, contudo, não.
Ele quer, e precisa de maior performance.
Mas você, aí, com um mísero barquinho, não quer nada melhor?
Não preciso de performances, nem de brilhos, que são sempre efêmeros. Ninguém me exige patrimônio, nem podem exigir.
Como não preciso de mais nada, sobra dinheiro.
Sou dos mais ricos da face da terra, e da água.
Um rico avarento, então, cuja riqueza não pode ser repartida.
Fosse por isso os soviéticos seriam todos ricos.
A riqueza não depende de quantidade de matéria acumulada,
ou dividida, mas, curiosamente, do seu desprezo.
Rico é o que não precisa de nada! Provado?
Por hoje sossego, mas não estou bem convencido.
Você tem uma cabeça brilhante!
Obrigado.
Nada agradeça. Como brilhante, ela é dura, e pequenina!
Óps, não precisava ofender. Estou aqui para tentar lhe motivar, apenas.
Sei disso. Agradeço e peço desculpas. Não quis ofendê-lo,
mas tornar nosso diálogo mais divertido. Hoje é sábado.
Ofereço-lhe meu velho Willie Nelson e a encantadora Sinèad.